quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Psicologia da Aprendizagem

Do seu ponto de vista fará ou não sentido este sistema de procedimentos para a tornar a formação mais eficiente?
Gostaria que efectuasse uma comparação entre o que tem sido a sua prática e experiência formativa e o modelo de Gagne de modo a identificar e descrever um pouco as semelhanças e as diferenças encontradas.


Este tema fez-me recordar um episódio que comigo se passou não há muito tempo e que vou tentar enquadrar da forma proposta como exemplo ao modelo de Gagne.
Uma praça acabada de chegar do CFMTFA à BA5 em Monte Real foi colocada na linha-da-frente do F16, local onde eu desempenhava as funções de CrewChief. No seu primeiro dia na secção de CrewChief’s o chefe de secção deu-me instruções no sentido de eu começar a formar essa praça em auxiliar de CrewChief. Feitas as habituais apresentações despertei-lhe a atenção dizendo-lhe que íamos aprontar um F16 para voar e que o objectivo principal era a aproximação da aeronave em segurança com o motor em marcha e parado. No caminho para a aeronave fiz-lhe algumas perguntas sobre as várias disciplinas que teve no curso estimulando-o para a recordação das matérias que estudou referindo que são uma mais valia para um bom desempenho dos mecânicos na aeronave. Quando chegámos à aeronave, uma segunda-feira de manhã fria no inverno, complicou-se tudo, porque debaixo da entrada de ar do motor estava tudo sujo com ramos dos pinheiros e eu disse-lhe para varrer essa zona, ao que o 2CAB respondeu ao 1SAR: “…eu fiz um curso de mecânico de aviões, não foi um curso de varredor.” Para mim estas palavras bastaram, levei-o para a secção, perguntei-lhe qual era o sofá que gostava mais, acendi a televisão num programa infantil e deixei-o ali (claro que tive que fazer todo o trabalho sozinho). À hora do almoço o chefe perguntou-me porque estava ali o 2CAB, a minha resposta foi: “É preciso eu dizer alguma coisa?!...” Responderam os dois que não.
A informação que passei a essa praça estabeleceu uma ponte enorme tornando possível guiar a aprendizagem, deixando-o numa situação real que o aliciou à prática, teve o feedback positivo dado pelo chefe de secção, desde esse dia preocupou-se com a sua performance e teve o tempo suficiente para rever onde falhou aumentando desta forma a retenção e a transferência.
Tornou-se, apenas, num dos melhores praças da secção!



Da sua experiência como formando, refira uma acção de formação em que gostou particularmente de tomar parte.

Sendo eu natural de uma vila (Pataias) muito próximo da Marinha Grande, cidade de cariz industrial com fortes tradições na industria de moldes, desde que ingressei na Escola Secundária da Marinha Grande (Escola Industrial chamada na altura por Técnica) que comecei a ter aulas de serralharia, mecânica, desenho, etc., em que a pressão para seguir uma carreira profissional na industria dos moldes, já se fazia sentir. Após terminar o 9º ano de escolaridade, de acordo com o meu desempenho ao nível da mecânica, sentindo alguma vocação e pensando em entrar no mercado de trabalho, inscrevi-me no centro de formação profissional de Leiria no curso de Desenho de Máquinas e Moldes. Esta acção de formação, particularmente orientada para o mundo profissional que se vivia na altura, foi a que mais gostei de participar.
Enquadrando a situação convém referir que esta formação remonta ao ano de 1985/86 e que nesta altura as dificuldades eram notórias:
- Não tinha transporte próprio; a formação era ministrada à noite; o computador não era uma ferramenta de fácil acesso (desenhava-se no estirador e a tinta-da-china); objectivo, aprender uma profissão para trabalhar; quem não tivesse um “conhecimento” numa fábrica de moldes, em vez de ir para desenhador/projectista, ia trabalhar para a oficina porque já sabia ler e interpretar desenho técnico.
Tirando os receios iniciais, assim que começou a formação reparei que existia um estirador para cada formando com todas as ferramentas necessárias ao desenhador da época. Quanto a publicações, existia um manual da escola com alguma abordagem teórica ao desenho técnico. Feitas as apresentações foi-nos dado de imediato uma “peça” para desenhar. Claro que o monitor ficou de imediato a conhecer as dificuldades de cada formando e a partir daí não mais largamos o estirador até conseguirmos, sentindo na pele as verdadeiras dificuldades de quem desenha e ultrapassando-as à medida da nossa evolução, atingir os parâmetros necessários ao desenho/projecto de um molde (no meu caso lembro-me que desenhei um molde para produzir copos de plástico que se utilizam nas máquinas de café).
Como balanço final e à custa de uma aprendizagem vocacionada para o trabalho, refiro a elevada auto-estima com que os formandos ficaram e o que as firmas de moldes “ganharam” em receber “sangue novo” habilitado à realidade laboral da época.

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